IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para surpresa de ninguém, as delegações russa e ucranianas que promoveram a terceira reunião sobre a paz na guerra que assola o país europeu há quase três anos e meio concordaram em seguir discordando acerca de pontos centrais para chegar a um acordo.
A boa notícia do encontro desta quarta (23) em Istambul, na Turquia, foi que não houve um rompimento total. Os dois lados concordaram e seguir se reunindo, e os russos sugeriram até que isso seja feito de forma virtual daqui em diante.
Já a proposta ucraniana de um encontro entre Volodimir Zelenski e Vladimir Putin no fim de agosto tende a cair no vazio, como o Kremlin já havia antecipado. O negociador-chefe russo, Vladimir Medinski, afirmou que tal encontro só poderia ocorrer potencialmente para assinar um acordo, não para discussões.
Este é um entrave central. Moscou apresentou uma lista de demandas, que vão de cessão de territórios até à realização de eleições na Ucrânia, para daí chegar a um cessar-fogo e paz. Kiev, por sua vez, quer ver os líderes conversando e um cessar-fogo antes de os termos serem acertados.
As delegações se encontraram no belo palácio otomano Çiragan, hoje um hotel de luxo às margens do Bósforo, como nas duas ocasiões anteriores. De forma análoga, o que sai de concreto desta vez é mais uma rodada de troca de prisioneiros e, agora, civis. As primeiras libertações já ocorreram nesta quarta.
Até aqui, 1.200 vivos e vários mortos foram enviados de lado a lado, segundo o acordo da reunião mais recente, ocorrida há sete semanas. A novidade, de lá para cá, foi a pressão de Donald Trump sobre Putin, a quem vinha favorecendo ao reabrir diálogo direto com o russo.
Na semana passada, o presidente americano fez um ultimato ao colega, dizendo que Putin teria de fazer a paz em até 50 dias ou enfrentar novas e debilitantes sanções, inclusive contra países aliados que compram seu petróleo e derivados, caso de China, Índia e Brasil, colegas de Moscou no Brics.
O Kremlin disse que não aceitaria pressão, mas topou em conversar com os ucranianos, ainda que esteja claro o limite do que pode ser acordado até aqui.
Em Moscou, segundo a reportagem ouviu nesses dias entre observadores próximos do poder, há dúvidas sobre a real dureza de Trump em suas ameaças. Primeiro, o prazo dilatado, que permitirá ao Kremlin continuar sua ofensiva de verão do hemisfério Norte e os violentos ataques aéreos que têm marcado o conflito.
Segundo, a intensidade da manutenção da ajuda militar de Washington a Kiev, agora num esquema em que quem paga a conta são os aliados europeus da Otan, é lento. Segundo a imprensa alemã, o envio de duas baterias do sistema antiaéreo Patriot, o mais desejado pelos ucranianos, deverá ocorrer só no ano que vem.
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