Os hábitos modernos estão corroendo não apenas o esmalte dental, mas também velhos paradigmas da odontologia. Café, isotônicos, energéticos, refrigerantes, sucos cítricos e dietas ácidas se tornaram parte da rotina de milhões de brasileiros, e com eles, um inimigo silencioso: o desgaste progressivo dos dentes. Observamos hoje toda uma nova geração, muito focada em saúde, mas que envelhece os dentes antes da hora. O estresse, o bruxismo, dietas extremas, doenças gástricas e o uso frequente de medicamentos completam o quadro de uma epidemia que faz com que jovens de 20 anos de idade apresentem um desgaste dentário que seria compatível aos 60 ou 70 anos.
Por décadas, o mantra foi o mesmo: escove com qualquer pasta fluoretada e tudo ficará bem. Mas a ciência começa a questionar o que realmente há dentro de um tubo de creme dental. E a resposta pode mudar a forma como entendemos o cuidado bucal. A escovação, antes vista como um gesto automático, agora passa a ser encarada como um ato de regeneração. E isso graças à nanotecnologia.
Com o avanço das pesquisas em biomateriais, um novo protagonista entrou em cena: a hidroxiapatita, mineral naturalmente presente em dentes e ossos humanos. Segundo o Dr. Nelson Levandowski Jr., dentista e Ph.D. em biomateriais, “enquanto o flúor cria uma película protetora sobre o esmalte, a hidroxiapatita reconstrói a própria estrutura mineral perdida”. As nanopartículas de hidroxiapatita (n-HAp) são pequenas o suficiente para penetrar microfissuras e túbulos dentinários, reduzindo a sensibilidade e revertendo os estágios iniciais da desmineralização.
Mais que isso: por ser idêntica ao material biológico do corpo, não apresenta risco de toxicidade e pode ser usada por pessoas de todas as idades, inclusive as com necessidades especiais. Estudos recentes indicam que a n-HAp ajuda a equilibrar o pH bucal e favorece a remineralização precoce de lesões “invisíveis”, contribuindo inclusive para a reversão de cáries iniciais.
De invenção da NASA ao banheiro dos brasileiros
Poucos sabem, mas a história da hidroxiapatita sintética começou longe da Terra, literalmente.
Nos anos 1970, pesquisadores da NASA procuravam uma forma de conter a perda de minerais dos ossos e dentes de astronautas submetidos à microgravidade. Dessa busca nasceu o método de síntese da hidroxiapatita artificial, quimicamente idêntica à natural. A tecnologia foi licenciada a uma empresa japonesa, que em 1978 lançou o primeiro creme dental com o composto. Em 1993, o governo do Japão reconheceu oficialmente a hidroxiapatita como agente anti-cárie.
Apesar do início promissor, patentes, custos elevados e pouca divulgação científica limitaram sua expansão global por décadas. O crescimento acelerado do uso da hidroxiapatita é recente, impulsionado pela busca por produtos mais naturais, sustentáveis e biocompatíveis. Nos últimos cinco anos, o uso da hidroxiapatita em dentifrícios cresceu em ritmo acelerado, acompanhando a onda do “clean beauty” aplicada à odontologia.
DNPRIME: nanotecnologia brasileira entra em campo
O movimento chegou ao Brasil com a criação da DNPRIME Biomateriais, startup catarinense que se tornou a primeira fabricante nacional de nano hidroxiapatita de grau médico, aplicada a cosméticos e produtos de higiene oral (www.dnprime.com.br). A empresa desenvolveu um método próprio de síntese sustentável, alcançando pureza comparável à usada em dispositivos médicos, mas agora aplicada a produtos de uso pessoal, como cremes, loções e bioestimuladores de uso tópico.
Com essa base tecnológica, nasceu em 2025 o Primedent bioativo, primeiro creme dental anticárie 100% brasileiro formulado com hidroxiapatita biomimética. Sem flúor e com foco na remineralização da estrutura, o produto promete aliviar a sensibilidade dentinária e prevenir o envelhecimento bucal precoce. Uma nova categoria de cuidado oral inspirada na biotecnologia (www.primedent.com.br).
Escovar os dentes nunca foi tão científico
A proposta é clara: se antes a escovação servia apenas para limpar, agora ela pode reconstruir. Com a produção nacional de hidroxiapatita, o Brasil entra no mapa da odontologia regenerativa, unindo nanotecnologia, sustentabilidade e biocompatibilidade. O desafio, dizem os especialistas, é popularizar o conhecimento. Afinal, não se trata apenas de estética ou hálito fresco, mas de regenerar tecidos de forma natural e segura. Em última análise, a nanotecnologia na escova de dentes representa mais do que uma tendência de mercado, é um símbolo de um país que começa a transformar ciência em cotidiano. E, desta vez, com um sorriso genuinamente brasileiro.
