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DNA EAD – Entre Conquistas e Retrocessos: Uma Análise da Educação a Distância

A Educação à Distância (EaD) trouxe uma mudança importante no acesso ao ensino superior brasileiro nos últimos 20 anos.

Enquanto a universidade era um privilégio de poucos na década de 1990, a partir dos anos 2000, o panorama passou por uma transformação significativa. 

O Ministério da Educação (MEC) comunicou que, em pouco mais de dez anos, o ensino a distância (EaD) quase dobrou a quantidade de matrículas no país, ampliando as oportunidades em uma escala sem precedentes. Essa expansão não se limitou apenas às grandes cidades; ela também alcançou comunidades ribeirinhas no Amazonas, aldeias indígenas e cidades do interior, onde a instituição de ensino mais próxima estava a centenas de quilômetros de distância.

O impacto dessa democratização não pode ser ignorado, como evidenciado pelo aumento no número de matrículas e pela inclusão de comunidades que antes eram marginalizadas. Pela primeira vez, milhões de brasileiros tiveram a oportunidade de ingressar em cursos de graduação e pós-graduação, equilibrando estudos com trabalho e responsabilidades familiares. O ensino a distância (EaD) funcionou como um instrumento de inclusão social e regional, ultrapassando barreiras geográficas e socioeconômicas que limitavam o acesso à informação. 

Contudo, recentemente, observamos uma mudança na narrativa oficial. O mesmo MEC que celebrava os avanços do EaD em anos anteriores começou a questionar sua legitimidade e qualidade, recorrendo com frequência a percepções negativas em vez de informações objetivas. Apesar de a crítica ser fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas, é alarmante que, em algumas situações, essa crítica adquira um tom de demonização, como se a modalidade fosse a causa dos problemas estruturais da educação no Brasil. 

Essa alteração na política traz um efeito negativo: ao invés de fortalecer os mecanismos de regulação e incentivar a inovação pedagógica, gera-se um ambiente de desconfiança e retrocesso. Instituições que investiram em tecnologia, metodologias ativas e formação de docentes para o ensino a distância estão, neste momento, lidando com desafios regulatórios que dificultam a expansão segura desse formato. É ainda mais alarmante que milhões de estudantes que dependem exclusivamente do EaD para estudar possam perder essa oportunidade. 

Enquanto o EaD é criticado abertamente como uma cortina de fumaça, que tenta esconder que a verdadeira questão da educação superior no Brasil é a desigualdade histórica no acesso a um ensino de qualidade. As deficiências na educação básica, a falta de infraestrutura tecnológica em regiões carentes e a ausência de políticas de inclusão digital são desafios reais que não podem ser atribuídos à modalidade. Ao contrário, o EaD tem se mostrado parte da solução, oferecendo alternativas flexíveis e com custo acessível para grupos que foram marginalizados ao longo da história. 

Informações do MEC/INEP indicam que, em 2020, o ensino a distância superou o presencial em número de matrículas. Isso levou ao recorde histórico alcançado em 2024, quando 20,5% dos adultos com 25 anos ou mais possuem um diploma. 

A experiência mostra que o ensino a distância, quando bem estruturado, pode formar profissionais de alta qualidade, comparáveis aos formados no ensino presencial. A combinação de ambientes virtuais interativos, apoio docente próximo e uso inteligente de recursos tecnológicos gera um aprendizado relevante e adaptado às necessidades do século XXI. 

Portanto, a pergunta não é se o EaD vai sobreviver, mas como podemos melhorá-lo continuamente. Em vez de restringir, é preciso melhorar; em vez de retroceder, avançar. O futuro da educação brasileira depende da capacidade de harmonizar a excelência acadêmica com a inclusão social, bem como a inovação pedagógica com a responsabilidade institucional. 

A história da educação superior no Brasil já conta com a presença consolidada do EaD. O desafio atual é impedir que histórias superficiais ofusquem as verdadeiras conquistas que afetaram vidas e comunidades inteiras.

Raphael Bispo Milhomens
Raphael Bispo Milhomens
Doutor em Ciências da Educação e atual Reitor da UNIORLANDO (EUA), além de Diretor de Regulação e de Pós-Graduação da Faculdade Van Gogh e Diretor Geral da Faculdade Itecne – UNITECNE. Com sólida trajetória em gestão acadêmica, regulação e inovação, já atuou como Diretor Geral, Diretor Acadêmico, Procurador Institucional e coordenador de projetos estratégicos em EaD. Sua formação multidisciplinar — que abrange Administração, Enfermagem e Direito Educacional — o posiciona como um dos nomes de referência na educação superior contemporânea. É pesquisador do CNPq no grupo A Polissemia da Ação Humana, com foco em liderança educacional, modernidade líquida e políticas para formação docente.

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