SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foi em pleno carnaval que tudo começou -mas sem confete nem conversa. Thairone Cavalcanti, 27, e Eduardo Kunst, 32, hoje conhecidos como os criadores do canal Dragbox, trocaram olhares em João Pessoa durante a folia, mas só se falaram no dia seguinte, depois de um “match” num aplicativo de relacionamento.
Da troca virtual nasceu um romance que, pouco tempo depois, virou convivência e, mais adiante, trabalho conjunto na internet. “Aceitei um emprego só para ficar mais perto dele”, lembra Thairone à reportagem, que na época deixou sua cidade, Monte Horebe, no interior da Paraíba, para ser professor em uma escola estadual de João Pessoa, onde Eduardo morava. Mergulhou de cabeça no relacionamento e no trabalho, tocando paralelamente o projeto juntos. Deu certo. “Nunca imaginei alcançar tudo que temos hoje em dia.”
E eles têm muito. Criado em 2019, o Dragbox, no Youtube, foi pensado como um espaço onde os dois poderiam criar qualquer tipo de conteúdo, seja como drags ou ‘desmontados’. Com mais de 400 mil inscritos, o canal já ultrapassa a marca de 1.500 vídeos publicados, incluindo conteúdos que chegam a mais de 700 mil visualizações.
No Instagram, a conta acumula 583 mil seguidores, enquanto no TikTok o alcance é ainda maior: são mais de 1 milhão de fãs, com vídeos que frequentemente viralizam e registram centenas de milhares de visualizações.
O nome Dragbox veio de um gerador de palavras usado por um amigo do casal. Eles curtiram a ideia de “box” (caixa) por permitir variedade. Como a opção de aparecerem como drags -ou não, o que, logo perceberam, faz diferença.
O casal também começou a perceber que estar sempre de montado, por mais impressionante que fosse visualmente, criava uma barreira com o público. “As pessoas desumanizam. Parece que você não é uma pessoa ali atrás, só uma personagem”, diz Thairone.
Ele conta que o programa começou a bombar de verdade quando eles começaram a aparecer sem maquiagem ou figurino especial. “Crescemos mais quando passamos a aparecer desmontados. Bater 1 milhão no TikTok foi por causa disso -vídeos de receitas, rotina, coisas que mostram nosso lado humano”, conta.
Durante a pandemia, o plano de morar juntos veio com uma desculpa estratégica. “Falei: ‘Vai ser mais fácil para fazer o canal e a gente vai poder entrar na academia que a gente quer’. Uma das duas coisas deu certo, porque a academia nunca nem viu a cor”, brinca Eduardo.
Os dois primeiros anos foram de dedicação sem retorno financeiro. Eles continuaram produzindo mesmo sem patrocínios, visualizações ou promessas. A virada aconteceu em 2021, quando o canal começou a crescer de fato. Para Thairone, foi nesse momento que a decisão de deixar o emprego na escola finalmente ganhou sentido. “No dia que saí, lembro que chorei desesperado com uma música alta. Era um choro de alívio, tipo: ‘Graças a Deus’. Era o fim de um ciclo e o começo de outro.”
Os dois primeiros anos foram de dedicação sem retorno financeiro. Eles continuaram produzindo mesmo sem patrocínios, visualizações ou promessas. A virada aconteceu em 2021, quando o canal começou a crescer de fato.
Para Thairone, foi nesse momento que a decisão de deixar o emprego na escola finalmente ganhou sentido. “No dia que saí, lembro que chorei desesperado com uma música alta. Era um choro de alívio, tipo: ‘Graças a Deus’. Era o fim de um ciclo e o começo de outro.”
Eles explicam que costumam reservar a arte drag para momentos de apresentação mais produzidos, como no ‘Dragbox na Cozinha’ -quadro de culinária exibido na DiaTV, onde atuam como apresentadores- ou em quadros de humor e curiosidades, nos quais abordam desde dilemas amorosos enviados por fãs até temas inusitados (e, de certa forma, poéticos) de ciência, como a transformação de uma lagarta em borboleta. Com uma pegada que lembra nomes como Blogueirinha e Diva Depressão, eles misturam entretenimento, deboche e informação de um jeito leve e bem-humorado.
Na visão de Eduardo, esse equilíbrio entre simplicidade performance e verdade, é um dos principais motores do sucesso do casal. Nos bastidores, eles continuam produzindo juntos, pensando ideias, adaptando formatos e acompanhando as mudanças de comportamento do público nas redes.
A adaptação, aliás, foi o que permitiu que eles se mantivessem relevantes mesmo quando o engajamento em vídeos montados diminuiu.
“Tem gente que ainda espera que drag seja só a performance exagerada e cômica, mas hoje a internet também acolhe quem mostra sentimento e até educação. Quando a gente aparece desmontado, cozinhando ou viajando, não é porque a a arte ficou de lado, mas porque a gente também é isso. E o público percebe quando é real”, diz Eduardo.